terça-feira, 29 de junho de 2010

Dependente

Depois de uma frustrada e inútil tentativa de juntar as partes de mim, resolvi lutar contra uma delas, a insana irracional. Mas ela foi mais forte, me levou a um lugar misterioso e aprazível que me fez esquecer tudo. Alí construi um pequeno mundo mágico.
Encontrei uma admirável criatura. Um lindo demônio branco. Com os mais belos olhos. Sua voz era doce como se misturaram os mais primorosos sons em uma canção fascinante. Cada passo em sua direção tornava menor a distância até o paraíso. Ele segurou minha mão e foi um convite. O perigo agora era excitante.
Seus lábios estavam próximos aos meus, quando inspirava era como se tirasse meu ar, ou talvez fosse eu quem esquecia de respirar. Eu deveria fugir ou lutar contra ele, mas eu não queria. Porque quanto mais perto estivéssemos, para mim não seria o bastante. Por que não me beija logo? Pensei.
Teria ele lido meus pensamentos? Seu toque fez com que meus olhos se fechassem. Meu coração palpitava num ritmo frenético, quando seus lábios tocaram os meus. Eles eram macios e gentis, moviam-se em sintonia com os meus. Veemente e espontâneo. Eu poderia morrer naquele momento, pois havia encontrado a perfeição. Ele se afastou e tive dificuldade para abrir os olhos, mas quando o fiz vi um irrepreensivo e delicado sorriso que me fez rir. Isso se repetiu algumas vezes.
Mais dias se passaram e eu estava ficando dependente. Ele havia se tornado um vício para mim. Como uma droga forte e irresistível. Eu nunca desejara nada como a ele, isso estava se tornando uma dependência física e psíquica. Eu precisava vê-lo, tocá-lo, seu cheiro era para mim o mais agradável perfume.
Mas algo estava errado, estaria ele doente? Eu poderia curá-lo? Eu daria meu sangue, entregaria minha alma, qualquer sacrifício. Mas não era esse o problema. Ele estava fora do seu mundo, isso estava matando-o aos poucos. Eu iria para o inferno com ele, faria qualquer coisa.
Mas a verdade é que ele não pertencia a mim. Esse seria meu sacrfício. Então deixei que ele voltasse. Foi como se estivessem me esfaqueando. Eu o vi se afastar, ele parou esperando que eu o desse um último abraço, mas eu não fui, e essa é a última imagem do "nós" que eu tenho.
Mesmo assim estou feliz. Ele está bem agora. Não me importo com a minha dor, ela me lembra tudo que aconteceu.Os dia são longos e insuportáveis, mas quando a noite chegar estaremos juntos em meus sonhos. E desejo que a noite nunca acabe, ou que eu nunca acorde.