domingo, 19 de dezembro de 2010

Identidade


Um dia desses ouvi um garoto dizer: “eu sou original, não copio ninguém, o resto é tudo paga pau!” Eu gostaria de saber se ele usa pelo menos 1/3 da “boa” parte do cérebro dele. Que atire a primeira pedra quem nunca copiou alguém. Tudo que fazemos pode ser considerado cópia.
Aprendemos a falar, andar, vendo os adultos fazerem nós logo copiamos. Aprendemos a ver as coisas, saber do que gostamos ou não, através do que eles nos passam. Para depois encontrarmos nossa própria identidade.
Até os artistas. Eles se espelham em alguém. Logo no começo, o artista se inspira e até copia o que mais gosta. Para depois criar sua própria arte a partir do que gosta.
O modelo copiado se esgota. O artista é figurativo até que se cansa. Isso acontece porque ele já encontrou seu estilo, e não precisa mais do molde. Se identificar com algo ou alguém é o primeiro passo.
Por isso, não vejo problema em copiar. Deixe-se levar pela emoção do que gosta e encontrará sua própria identiade. Encontrar você em você mesmo é a verdadeira arte.

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje eu não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
Eu sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
Que rio e danço e invento exclamações alegres,
Porque a ausência, essa ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade.

Soneto 151


Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e ameno;
O vento espalha as folhas pelo chão,
E o domínio do esio é bem pequeno.
As vezes brilha o solem demasia,
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na eterna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno;
Esse encanto que tens não perderás,
Nem chegarás da morte o triste inverno:
Nestas linhas, com o tempo crescerás.
E enquanto na terra houver um ser,
Meus versos te farão viver.
William Shakespeare